Por que alguns investidores sempre compram na hora certa?

O Brasil em 2025: Um Laboratório Perfeito dos Ciclos de Mercado.

O Brasil de 2025 oferece um cenário fascinante para compreender os ensinamentos de Howard Marks sobre ciclos de mercado. Com a taxa Selic estabelecida em 14,75% ao ano, vivenciamos um momento único que exemplifica perfeitamente como os mercados oscilam entre extremos.

Esta situação atual não é apenas um número isolado. Ela representa um ponto específico no grande ciclo econômico brasileiro, oferecendo oportunidades e desafios que Howard Marks descreveria como típicos de períodos de transição.

Para entender melhor esse momento, precisamos mergulhar nos conceitos fundamentais que Marks desenvolveu ao longo de décadas observando mercados ao redor do mundo.

O que Howard Marks Realmente Ensina Sobre Ciclos

A Natureza Cíclica dos Mercados

Howard Marks revolucionou a forma como pensamos sobre investimentos ao demonstrar uma verdade simples: mercados não crescem em linha reta. Eles se movem como pêndulos, oscilando entre extremos de otimismo e pessimismo.

No contexto brasileiro atual, essa oscilação fica evidente. A Selic em 14,75% não surgiu do nada. Ela representa a resposta do Banco Central a pressões inflacionárias e instabilidades econômicas que se acumularam ao longo do tempo.

Marks explicaria que este momento alto da taxa básica de juros faz parte de um ciclo maior. Assim como o pêndulo que sobe de um lado eventualmente descerá, as taxas de juros altas de hoje preparam o terreno para um futuro diferente.

As 4 Fases do Ciclo Econômico (Atualizado para o Brasil em 2025)

A economia funciona como uma montanha-russa: às vezes sobe, às vezes desce. Entender em que fase estamos pode te ajudar a investir melhor. Veja como funciona cada etapa — e onde o Brasil está agora.

Fase 1 – Expansão (crescimento acelerado)

• A economia acelera: PIB sobe, consumo cresce, empresas contratam.
• Juros geralmente estão baixos, o crédito está fácil.
• O mercado se enche de otimismo.

Setores que se destacam:

• Tecnologia
• Bancos e fintechs
• Consumo de luxo e turismo

Brasil em 2020/2021: Após a pandemia, com juros baixos e estímulos, o país viveu um momento de forte expansão.

Fase 2 – Pico (o crescimento bate no teto)

• A inflação começa a subir demais.
• O governo reage com aumento de juros (como agora).
• O consumo desacelera e os riscos aumentam.

Setores que ainda resistem:

• Energia
• Commodities (petróleo, minério)
• Financeiro (com lucros ainda altos)

Brasil em 2025: Estamos aqui. A Selic está alta (14,75%), a inflação foi controlada, mas o crescimento econômico está travado. O mercado está desconfiado, o crédito está caro e o consumo desacelerou.

Fase 3 – Contração (desaceleração ou recessão)

• O PIB cai ou cresce muito pouco.
• Desemprego sobe, consumo despenca, empresas encolhem.
• Investidores ficam com medo, a Bolsa sofre.

Setores que sofrem menos:

• Saúde
• Alimentos e consumo básico
• Energia e serviços essenciais

Risco para o Brasil: Se a taxa Selic ficar alta por muito tempo, podemos entrar nessa fase. Investidores devem ficar atentos a sinais como queda na produção, aumento do desemprego e piora no crédito.

Fase 4 – Recuperação (os primeiros sinais de melhora)

• A inflação cede, e os juros começam a cair.
• As empresas voltam a investir e contratar.
• A confiança retorna aos poucos, o mercado reage.

Setores que renascem primeiro:

• Construção civil e imóveis
• Varejo e indústria
• Ações cíclicas (empresas ligadas à retomada econômica)

Perspectiva para o Brasil: Se o Banco Central conseguir controlar a inflação e começar a reduzir a Selic com cautela, essa fase pode começar entre o fim de 2025 e 2026.

Mapa Simplificado:

O Pêndulo Emocional dos Investidores

Um dos conceitos mais poderosos do livro é o pêndulo emocional. Marks observou que os investidores oscilam entre dois extremos: euforia excessiva e pessimismo paralisante.

No Brasil de 2025, podemos observar este pêndulo em ação. Muitos investidores migraram massivamente para a renda fixa, atraídos pelos 14,75% da Selic. Essa migração em massa representa exatamente o tipo de comportamento de manada que Marks identifica como oportunidade.

Quando todos fazem a mesma coisa, geralmente é hora de considerar fazer o contrário. Não que investir em renda fixa seja errado, mas a concentração excessiva em uma única estratégia raramente é a melhor opção de longo prazo.

A Realidade Brasileira em 2025: Decifrando os Sinais

O Significado Real da Selic a 14,75%

Para um investidor comum, 14,75% ao ano pode parecer uma taxa extraordinária. E realmente é, quando comparada aos padrões internacionais. Mas Marks nos ensinaria a fazer as perguntas certas:

Por que essa taxa existe? A Selic alta reflete preocupações com inflação, déficit fiscal e incertezas políticas. Não é um presente gratuito do governo, mas sim o preço que pagamos por desequilíbrios econômicos.

O que isso significa para o futuro? Taxas altas criam sua própria correção. Elas desaceleram a economia, reduzem o consumo e, eventualmente, criam condições para que sejam reduzidas.

Onde estamos no ciclo? Esta é a pergunta fundamental de Marks. A Selic a 14,75% sugere que estamos em um momento de contenção, possivelmente próximos ao pico do ciclo restritivo.

O Comportamento dos Investidores Brasileiros

Observando o mercado brasileiro em 2025, vemos padrões que Marks descreveria como típicos de momentos de transição:

Fuga para a segurança: Investidores abandonaram ações e fundos imobiliários em massa, buscando a “segurança” da renda fixa. Esse comportamento uniforme é exatamente o que Marks identificaria como sinal de oportunidade.

Mentalidade de curto prazo: Muitos focam apenas no retorno imediato de 14,75%, ignorando que esse cenário é temporário e cíclico.

Esquecimento da inflação: Embora 14,75% pareça atrativo, é crucial considerar o impacto da inflação no retorno real.

Aplicando os Ensinamentos de Marks no Brasil Atual

Estratégia 1: O Contrarian Inteligente

Marks sempre enfatizou a importância de ser contrarian – ir contra a multidão no momento certo. No Brasil de 2025, isso significa não colocar 100% do patrimônio em renda fixa, mesmo com a Selic atrativa.

Exemplo prático: João, funcionário público, recebeu R$ 50.000 de FGTS. Seguindo a multidão, colocaria tudo no Tesouro Selic. Aplicando Marks, ele poderia dividir: R$ 30.000 no Tesouro (60%), R$ 15.000 em ações brasileiras desvalorizadas (30%) e R$ 5.000 em fundos imobiliários (10%).

Essa estratégia reconhece que a Selic alta é temporária e posiciona João para se beneficiar quando o ciclo mudar.

Estratégia 2: O Timing Inteligente dos Aportes

Com a Selic a 14,75%, muitos param de investir em outros ativos. Marks sugeriria o contrário: este é o momento ideal para aportes regulares em ativos descontados.

Exemplo prático: Maria, professora, investe R$ 500 mensais. Em 2025, ela poderia distribuir assim: R$ 200 no Tesouro Selic, R$ 200 em ações via ETF BOVA11 (aproveitando as baixas) e R$ 100 em fundos imobiliários.

Quando a Selic eventual mente cair, os R$ 200 mensais que foram para ações e FIIs durante o período de desvalorização se tornarão muito valiosos.

Estratégia 3: Entendendo o Custo de Oportunidade

Marks sempre alertou sobre o custo de oportunidade das decisões. A Selic a 14,75% tem um custo oculto: ela impede que muitos vejam outras oportunidades.

Exemplo prático: Uma empresa brasileira sólida, como Itaú ou Vale, pode estar negociando a preços atrativos porque todos fugiram para a renda fixa. Quem compra essas ações durante o período de alta da Selic pode se beneficiar duplamente: dos dividendos atuais e da valorização quando os juros caírem.

O Pêndulo do Mercado Brasileiro: Onde Estamos?

Analisando o Momento Atual

Usando a metodologia de Marks, podemos avaliar onde o Brasil está no ciclo de 2025:

Indicadores de topo do ciclo restritivo:

• Selic em nível historicamente alto
• Migração massiva para renda fixa
• Desprezo generalizado por ações e FIIs
• Pessimismo excessivo sobre o futuro econômico

Sinais de oportunidade:

• Ativos de risco descontados
• Yields de dividendos atrativos
• Múltiplos baixos nas ações
• Sentimento negativo generalizado

O que Vem pela Frente

Marks nos ensinaria que ciclos sempre mudam. A Selic a 14,75% não é permanente. Eventualmente, fatores como:

• Controle da inflação
• Melhora do cenário fiscal
• Pressões políticas por crescimento
• Comparação com juros internacionais

Criarão condições para a redução gradual dos juros. Quando isso acontecer, quem se posicionou durante o período restritivo será recompensado.

Lições Práticas para o Investidor Brasileiro

Lição 1: Diversificação Temporal

Não invista todo seu dinheiro no mesmo momento, mesmo com a Selic atrativa. Distribua seus investimentos ao longo do tempo, mantendo exposição a diferentes ativos.

Aplicação prática: Se você tem R$ 100.000 para investir, não coloque tudo no Tesouro Selic hoje. Invista R$ 60.000 agora e distribua os outros R$ 40.000 ao longo de 8 meses, sempre mantendo diversificação entre renda fixa e variável.

Lição 2: Controle Emocional

A Selic alta cria uma falsa sensação de segurança. Marks alertaria que essa “segurança” é temporária e pode criar complacência perigosa.

Aplicação prática: Estabeleça um percentual máximo de renda fixa no seu portfólio (por exemplo, 70%) e mantenha sempre exposição a outros ativos, mesmo que em menor proporção.

Lição 3: Visão de Longo Prazo

Os 14,75% da Selic são atraentes hoje, mas e nos próximos 5, 10 anos? Marks sempre enfatizou a importância de pensar além do ciclo atual.

Aplicação prática: Calcule cenários diferentes. Se a Selic cair para 8% em 2027 e as ações subirem 15% ao ano, qual estratégia será melhor? Essa análise ajuda a manter perspectiva.

Erros Comuns que Marks Nos Ensinaria a Evitar

Erro 1: Timing Perfeito

Muitos investidores brasileiros estão esperando o momento “perfeito” para sair da renda fixa. Marks diria que esse momento não existe. O segredo é fazer transições graduais.

Erro 2: Pensamento Binário

“Só renda fixa” ou “só renda variável” são extremos perigosos. Marks defendia o meio-termo inteligente, adaptado a cada momento do ciclo.

Erro 3: Ignorar a Inflação

Com a Selic a 14,75%, é fácil esquecer que a inflação corrói o poder de compra. O retorno real é o que importa, não o nominal.

Construindo Riqueza Real no Brasil de 2025

A Estratégia dos Pequenos Passos

Para quem tem pouco dinheiro, Marks sugeriria aproveitar este momento único da história brasileira. Mesmo com R$ 100 mensais, é possível aplicar os princípios:

• R$ 50 no Tesouro Selic (aproveitando a taxa)
• R$ 30 em ETF de ações brasileiras (aproveitando as baixas)
• R$ 20 em fundos imobiliários (yields atrativos)

O Poder da Consistência

Mais importante que acertar o timing perfeito é manter consistência. Quem investir regularmente durante todo o período de Selic alta se posicionará bem para o próximo ciclo.

Preparando-se para a Mudança

Marks sempre alertou: ciclos mudam mais rápido do que esperamos. Quando a Selic começar a cair (e isso vai acontecer), o cenário mudará rapidamente. Quem se preparou durante a fase restritiva colherá os melhores frutos.

Conclusão: O Brasil Como Laboratório dos Ciclos

O Brasil de 2025, com a Selic a 14,75%, oferece uma oportunidade única de aplicar os ensinamentos de Howard Marks. Este momento não é apenas sobre aproveitar juros altos, mas sobre entender onde estamos no grande ciclo econômico.

Os investidores que compreenderem que esta situação é temporária e se posicionarem adequadamente estarão preparados para o próximo movimento do pêndulo. Não se trata de prever o futuro, mas de entender o presente e suas implicações.

A verdadeira lição de Marks para o Brasil atual é simples: aproveite as oportunidades que os extremos oferecem, mas nunca esqueça que eles são temporários. O pêndulo sempre continua se movendo, e os mais bem preparados são aqueles que entendem sua dinâmica.

Lembre-se: Todo investimento envolve riscos e é importante fazer sua própria pesquisa ou consultar um assessor financeiro qualificado antes de tomar decisões de investimento.